Para audiovisual amadurecer, informação precisa circular melhor

Diretora de conteúdo original do History, A&E, Lifetime e H2, Krishna Mahon lançou por iniciativa própria o canal no YouTube Imprensa Mahon, que registra informações direto da fonte e as disponibiliza diretamente para produtores e interessados. Após participar da mesa Sessão temática: documentários na última edição do Telas Fórum, falou ao TelaTela:

TelaTela: Qual a maior intenção e motivação para o canal de youtube Imprensa Mahon?

Krishna: Faço coproduções com produtores independentes brasileiros há anos, antes mesmo da legislação garantir a presença da produção nacional nos canais de TV à cabo, antes até da criação do Fundo Setorial do Audiovisual. Percebi que o mercado cresceu muito, mas ainda precisa de fomento. Falo com produtores todos os dias às 11h, religiosamente, sempre ouvindo ideias, discutindo o mercado e dando dicas.

O canal no YouTube é uma iniciativa pessoal, fora da minha atuação como executiva, mas que vai de encontro a uma crença profissional que sempre me guiou: para que o nosso mercado amadureça, é necessário que a informação circule cada vez mais livremente.

O objetivo é compartilhar conhecimento, dicas gerais, outras mais específicas de gente experiente de todas as áreas, de produtoras, players, entidades públicas, fundos, que topam ser altruístas e contar um pouquinho do que sabem.

O canal é um instrumento fundamental na divulgação de informações-chave, que têm a potência de impactar a produção. O Imprensa Mahon prevê essa dimensão?

Não sei se o Imprensa Mahon pode impactar o mercado, afinal ainda é pequeno, não tem nem um ano. Antes de divulgar o primeiro vídeo, pensei que se ajudasse uma única pessoa o esforço teria valido a pena. Já no primeiro mês recebi os primeiros e-mails de produtores dizendo que tinham fechado reunião com algum player com que nunca tinham falado antes, que tinham evitado alguma ‘cagada’, que seguiram algum conselho e estavam felizes. Esse era meu sonho quando comecei o canal.

Com a expansão da área e da Lei 12.485/12, como tem sido o impacto na qualidade e estrutura dos projetos apresentados aos canais, uma vez que novas produtoras estão focando esse segmento?

Há uns três anos saiu uma notícia que a maior parte do dinheiro investido nas leis de incentivo iam para as maiores cinco produtoras do país. Fico super feliz de ver esse quadro mudando e que seja irreversível. Nas últimas edições do Telas e do Rio Content Market, já vi produtoras de pequeno e médio porte fazendo o ‘dever de casa’ melhor que as estabelecidas, entendendo os players e apresentando projetos bem focados no público-alvo certo, sem tanta discrepância de conteúdo, formato, valores, etc. Com o amadurecimento do nosso mercado, espero ver isso acontecer cada vez mais.

Dentre as mudanças no audiovisual recentemente, está a maior presença de temáticas e profissionais antes negligenciados. Como você vê a inserção do negro nesse cenário?

Quando se fala de narrativas negligenciadas no audiovisual brasileiro, a experiência de que participei intensamente foi o movimento Primavera das Mulheres que começou no ano passado, ganhou força e hoje se reflete num grupo de mais de 9 mil mulheres só no Facebook, discutindo temas importantes, criando equipes, parcerias, ajudando umas às outras com vagas e oportunidades em todas as áreas.

Como reflexo desse movimento o E! conseguiu montar uma equipe totalmente feminina para uma coprodução com a Movioca, Drag Me As a Queen. Acredito que a temática negra tenha um caminho muito similar. Mais de 50% da nossa população é negra e isso não se reflete nas equipes, no conteúdo, muito menos nos boards das empresas. Vejo esses grupos se formando, e até gravei Empoderados – Conteúdo Black para o Imprensa Mahon com um monte de gente interessante, que realmente juntas podem mudar a nossa realidade.

Nossa cadeia de produção audiovisual tem foco de fomento na produção e, ao poucos, vem alcançando outros áreas como desenvolvimento, distribuição e, agora, formação.

Como você percebe essa fragmentação no setor e a projeção/proposta de nos firmamos enquanto indústria, pela lógica de cadeia de indústria, com amadurecimento de cada etapa da cadeia?

Vejo isso como amadurecimento da indústria. Não tínhamos TV paga no Brasil até os anos 90. Estamos crescendo muito rápido. A partir da lei de TV paga, quando muitos players foram obrigados a exibir conteúdo brasileiro independente, perceberam o que os mais antigos (como Discovery que foi o primeiro grupo a produzir no país) já sabiam, que nosso conteúdo pode atrair audiência e isso gera renda.

Das 21 maiores audiências de 2013 na TV paga, nove já eram produções nacionais e sete delas de produtoras independentes.

As leis de incentivo fomentaram o mercado, que se aqueceu e aos poucos vai conseguir ser forte o suficiente para caminhar sozinho. Segundo um estudo da APRO/SEBRAE lançado essa semana, estima-se que a receita das empresas do setor seja de cerca de R$ 42,7 bilhões de reais (em valores do final de 2015).

Fonte: http://telatela.cartacapital.com.br/ (11/12/2016)

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